A Tradição Primordial também é dita "perene" porque sabe se transformar e adaptar, seguindo as próprias diretrizes da vida, sobre balizas universais que asseguram o equilíbrio do Todo, hoje em dia também chamado de “Holístico”. Costuma-se definir este eixo através de Trindades divinas.
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O NEO-MEDIEVALISMO



Ainda que fenômenos culturais como “Game of Thrones” e “O Senhor dos Anéis” sejam ficções -assim como “As Crônicas de Nárnia” e “Harry Poter“ para os mais jovens-, entre outros, tudo isto demonstra a preferência do público por temas de estilo mítico, gótico, mágico e medieval. Inclusive reproduzem amiúde passagens históricas insuspeitas, sem falar do forte apelo aos mitos e lendas tradicionais, sobretudo nórdicos, celtas e medievais. 
Indubitavelmente existe conteúdo nestas grandes sagas, capazes de passar muitas mensagens do espírito-de-época –considerado como meta-medievalismo-, mesmo sem possuir a densidade dos épicos antigos por se tratar de entretenimento moderno.Talvez as temáticas mais comuns dos videogames e dos RPGs sejam também de natureza medieval, servindo de instrumento alternativo de instrução. 

Deriva deste meio as chamadas “micronações” -que existem apenas simbólica ou virtualmente-, quase sempre representadas na forma de monarquias.
Finalmente, as dinâmicas que envolvem o Islã, na atualidade, também trazem a tona muitas rememorações medievais. Ao lado disto, existem questões políticas pontuais que remetem a urgências sociais semelhantes àquelas desenvolvidas no período medieval, como é o domínio da terra e as lutas de libertação, além da importância de resgatar valores revalorizando a Natureza e a própria espiritualidade.

E é isto que não nos permite esquecer a realidade das Novas Tribos –quase todas irremediavelmente urbanas- de viés comportamental, como góticos, skingheads (“carecas”), darks e punks, assim como os outsiders, os hippies e os alternativos da contracultura.


Um mundo tão ordenado e programado como este em que vivemos, desperta naturalmente nostalgias de tempos incertos e de aventuras, até mesmo de dramas e tragédias. Esta seria uma das razões pelas quais o Nazi-fascismo tende a se fixar de tal forma no imaginário das pessoas como tema cult e estético –para não dizer erótico mesmo.

Na verdade, o Nazi-fascismo foi um revival modernista do espírito aristocrático heróico, inspirado nas lendas nórdicas ou arturianas, assim como na História Antiga. O Nacionalismo comumente se inspira na cultura tradicional e nela busca recursos para as suas causas.
Sua presença sadomasoquista se infiltrou profundamente na sociedade moderna através da mídia e da política. O Nacionalismo representa uma proto-monarquia, seja o nacionalismo étnico ofensivo (racista) ou o social defensivo (humanitário). 


O Nacionalismo representa uma etapa necessária à formação das sociedades, e não pode ser substituído pela luta-de-classes sob pena de manter as sociedades colonizadas. O mesmo já não ocorre com as nações antigas, social, cultural e economicamente consolidadas.
Para a mentalidade medieval antiga, os seres fantásticos não eram meramente fábulas, mas também alegorias, buscando inspirar, representar ou denunciar comportamentos.*


A Idade Central

Como a palavra diz, “Idade Média” significa Idade-do-Meio. Tudo o que é central possui caráter refundador e reformador.


Na acepção tradicional, o termo representa o tempo intermediário entre a Idade Antiga e a Idade Moderna. Esta abordagem antropológica é porém meramente ocidental e europeísta (considerando desde Grécia e, sobretudo, Roma), tornando-se daí artificial e claramente ideologizada, senão xenófoba mesmo. Não desprezamos com isto a cultura Ocidental, apenas julgamos ser necessário incluir o tempo-espaço das Civilizações Orientais e africanas numa visão séria e coerente das coisas. Afinal, as bases da Ciência e Filosofia até antecedem a Grécia ou não são exclusividade desta. Inclusive buscar compreender o equilíbrio de valores antigos que permitia a sustentabilidade.**
É mais ou menos a mesma razão que leva à depreciação da própria Idade Média pela ótica burguesa “iluminista” como uma “época de trevas”, apesar das catedrais e das universidades, entre tantas outras conquistas havidas ali. E em última análise, é o mesmo problema com que se debatem os tempos modernos contra o espírito de devastação através do consumismo desenfreado, este sim espantosamente irracional...
A falta de sensibilidade das elites burguesas com as coisas da alma, a levou a tentar criar uma cultura científica e sem-alma, própria para a indústria e o consumo. Quando na verdade, poucos são aqueles que se interessam realmente ou tem acesso (e controle) à Ciência. Por isto vivemos em pleno século XXI a proliferação de seitas e igrejas tão ou mais irracionais quanto as medievais.



Existe, contudo, uma acepção “etnológica” mais pontual dentro do ciclo de dois mil anos das Eras zodiacais, divididas em subciclos de 700 anos. Lembrando sempre que nossa compreensão particular da astrologia não é profana e pseudo-astronômica (ptolomaica), mas sim estruturalista (ou platônica-pitagórica), ao modo da afirmação de Claude Levi Strauss: “A Astrologia é um estruturalismo avant le lettre”.
Neste quadro, o período médio teve início nos tempos de Maomé, marcando profundamente o Ocidente com as Cruzadas e outras lutas de libertação, para encerrar nos tempos das conquistas européias ultramarinas; marcando assim as grandes dinâmicas medievais e renascentistas. Assim, no ciclo zodiacal a parte central começa realmente com Maomé, e nenhum historiador que se preze deixa de reconhecer que a partir dali começa a organização e o auge da Idade Média no Ocidente. O Islã surge assim como uma religião e civilização marcadamente medievalista.
O marco medieval tradicional da queda do Império Romano, entraria na pauta das transições para a Idade Média, havendo que considerar neste caso, que este primeiro período da Era Cristã (ou da Era de Peixes) entra também como fase formativa ou de colocação dos alicerces da nova civilização, tratando-se assim de uma espécie de Antiguidade cristã, quando ainda se busca adaptar os elementos da cultura antiga, especialmente greco-romana. De outro modo, poderia soar artificial analisar o ciclo cristão (“Idade Média”) partindo de outras civilizações.

Por fim, existe uma abordagem sociológica para o tema. Cabe aqui observar os ciclos de formação social das civilizações que, segundo os estudiosos, ocupa ao menos mil anos para se formar e consolidar. Esta visão apresenta valor especial para as nações novas criada a partir da Conquista das Américas.
Neste caso, sua fase média teria início com os movimentos de independência das nações, e que no caso do Brasil aconteceu ainda dentro do Império e da Monarquia. Atualmente vivemos o ápice deste ciclo médio sociomilenar do Novo Mundo, de modo que podemos esperar aspirações análogas às existentes no auge da Idade Média, uma vez que as novas nações necessitam consolidar as suas estruturas sociais e econômicas básicas, pese a poderosa carga de alienação e contra-ideologia que sobre elas pesa hoje através do neo-colonialismo.
Sabemos ser um desafio raciocinar através da pluralidade dos ciclos, mas a vida mesma está composta assim, ainda que não se costume prestar muita atenção nisto. Mas é isto que pode explicar afinal as complexidades das coisas: “rodas dentro de rodas”, como ensina a Sabedoria das Idades.
Verdade é que o homem moderno desenvolve muito a mente em favor das coisas físicas e materiais, e bem pouco em relação às coisas abstratas do tempo, da alma e da sociedade, que também tem ralações com o mundo físico. Quando observamos uma engrenagem cronológica complexa como a da “Pedra do Sol” asteca, fica muito clara esta situação.

* Contudo, a religiosidade milenarista aristocrática não costuma ser bem vista pela Igrejas tradicionais que buscam um paraíso distante. Razão pela qual a burguesia se sente atraída pela religião transcendentalista protestante que não põe ênfase nas “obras”. A vinda de Lutero foi um prato cheio para a burguesia em ascensão, encontrando um vínculo religioso afim às suas reivindicações liberais e “moralizantes”.
** O ciclo de 5 mil anos deve ser então lembrado por englobar o real período (mínimo!) da Civilização que o Ocidente desconsidera na prática. Este ciclo maior entra mais na conta de civilizações mais originais como a Egípcia, e mesmo a Chinesa e a Hindu, com suas culturas mais longevas e de baixa tecnologia. Considerando o ciclo de cinco mil anos da evolução antropológica (criação da agricultura, criação da civilização, “etc.”), a divisão pode empregar o ciclo sótico de 1.460 anos. A fase média começaria nos tempos de Moisés durando até os séculos de Jesus ou além. Portanto, o Judaísmo seria uma das culturas diretamente associadas a este período médio da civilização.

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Luís A. W. Salvi é autor polígrafo e polímata sul-americano cujas obras são divulgadas pelo Editorial Agartha.
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(+55) (51) 99861-5178

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